sábado, 23 de dezembro de 2017

Tecendo a manhã

2017 não foi um ano fácil, mas sigo com esperanças no porvir. Uma esperança, como nos ensina João Cabral de Melo Neto, que aposta na ousadia, no coletivo, no compartilhamento, na parceria. Que terminemos esse ano com boas festas e, em 2018, possamos tecer juntos uma nova manhã. Até!

Tecendo a manhã* 
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão. 

João Cabral de Melo Neto, 
(A educação pela pedra)

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