terça-feira, 12 de junho de 2012

Namoro também é assunto de criança

Hoje é Dia dos Namorados e, ao contrário do que muita gente acredita, este assunto não é apenas de adultos. É de criança também. De criança grande, que sonha em ser adolescente, mas ainda é criança. Foi assunto meu, quando eu ainda era um pingo de gente e sonhava platonicamente com um coleguinha de turma, e está sendo assunto do Pedro, aos 10 anos. Assim que percebi este interesse, fiquei tensa. Achei que ele ainda era muito novo para pensar nisso. Mas, não, disse-me o Cadoca! Lembrei de meus suspiros de infância e concluí - namoro de criança é namoro experimental. Quem nunca beijou um espelho que jogue a primeira pedra. Namoro de criança serve para ensinar os códigos dos apaixonados e fazer sonhar, mais uma vez, com uma adolescência que se avizinha. Uma delícia, que infelizmente, nós adultos não vamos mais viver. Por isso, resolvi fazer aqui no GATO DE SOFÁ uma pequena homenagem aos jovens enamorados, falando de dois livros deliciosos. O primeiro é Luana Adolescente Lua Crescente, de Sylvia Orthof, editado pela Nova Fronteira. O livro é de 1989 e comprova que namoro sempre foi assunto de criança. A personagem de Sylvia é Luana, uma pré-adolescente, que está apaixonada por Marcelo e sem saber o que fazer com este sentimento, que a expõe e envergonha, inventa um tal de Antônio para fazer frente a seu verdadeiro amor.  Marcelo é um menino real, que, assim como ela, está descobrindo os primeiros passos do amor e vive tempos difíceis em família. Antônio é um super menino, rico e seguro, ideal para incomodar Marcelo e aliviar as angústias de Luana. O texto é gostoso como todos de Sylvia e, com certeza, ajuda as meninas a perceberem que todo mundo tem medo de pagar mico com o primeiro namorado, só a bailarina é que não tem. Mesmo nossa rival, por mais que meninas como Luana sempre achem que ela se parece muito com a bailarina. Inseguranças nessa hora não são coisas apenas de meninas. Os meninos também tremem diante de sua primeira paixão. Eu, que tenho dois irmãos, sei bem isso. Gregório, narrador de Todo mundo namora menos eu, do francês Alex Cousseau, pela Edições SM, não foge à regra. O menino, que passa toda a narrativa apaixonado por uma moça de 19 anos, é um bom exemplo de quem se enamora antes da hora. Ele curte cada suspiro, cada possibilidade e ao fim entende que o amor nem sempre nos sorri. Mas que o bom é poder vivê-lo. Até porque faz parte do aprendizado do amor dar umas cabeçadas. Quem não é mais criança, sabe bem disso. E só quem dá a volta por cima, como Gregório, é que pode, em um dia como hoje, ter alguém para dizer: Feliz Dia dos Namorados!

sábado, 9 de junho de 2012

Irmãos de verdade, no amor e no ódio

Livros para crianças são como livros para adultos. A cada dia que os abrimos, nos surpreendemos com uma nova leitura. É esse o grande barato de quem gosta de guardar seus livros. Poder revisitá-los e ter uma nova emoção, revivendo o que para muitos é um amontoado de papel velho. Assim, tem sido na minha vida e na dos meus meninos. A gente implica com um livro e depois faz as pazes com ele. A gente gosta de algum e um tempo depois, vê que gosta ainda mais. Não foi diferente com Por favor, Eleonor!, de Frieda Wishinsky, editado pela Brique-Book. Eu o comprei para o Pedro, logo depois que o Antônio nasceu, animada com as delicadas ilustrações da canadense Marie-Louise Gay - sou fã dela - e li algumas vezes para ele, que, como eu e o irmão, ama as histórias de Estela e Marcos. O livro foi mais um para o Pedro. Não causou nenhuma emoção maior e acabou rapidamente esquecido na estante. Até que há poucos dias o resgatei das prateleiras para lê-lo para o Antônio. Apresentei João e Eleonor como primos da Estela e do Marcos, parentesco garantido no traço de Marie-Louise Gay e na verdade da relação dos dois irmãos. Esses dados garantiram empatia imediata entre Antônio-leitor-ouvinte e os personagens. O resto ficou por conta da identificação com a história de João e Eleonor. O irmão mais velho passa grande parte da história desejando que a menina, sua imã, caia fora. Como a menina não cai fora, ele passa a desejar que ela seja um cachorro. É quando um estranho cão aparece na história e deixa João desesperado, com medo de  seu desejo ter se transformado em realidade. Tenho certeza de que o Antônio sabe bem o que é isso. Sabe também o que é desejar estar perto do irmão mais velho e não ser desejado. Sabe também o que fazer para levar o outro à loucura. Sabe ainda o que é esquecer-se desse desejo quando um amigo aparece. Essa verdade, contida no livro, vale mais do que mil histórias de irmãos fraternos e amorosos para apaziguar os ódios passageiros que só acometem irmãos que se amam. O Pedro, no seu tempo de curtir o livro, ainda não tinha esta experiência com o Antônio, que não passava de um bebê. Agora, com os dois grandes, brigando como João e Eleonor, a história ganhou novo sentido, antes oculto no texto e nas ilustrações. Ganhou o Antônio, que pode ver que ele e o Pedro não são os únicos irmãos a amarem-se no amor e no ódio.