terça-feira, 19 de outubro de 2010

Crescer sem perder a ternura

Ter dois filhos com idades tão diferentes, como eu tenho, é uma experiência e tanto. Quando um está indo com a farinha o outro está voltando com o pirão. Mas nem sempre o pirão é mais saboroso que a farinha, quando o assunto é literatura. O Pedro, com seus oito para nove anos, está ingressando no mundo real e se estranhando com as liberdades da literatura. "Mãe, isso é um absurdo", diz ele, quando depara-se com uma situação surreal. É mesmo, ele tem razão. Mas que importância tem isso, quando estamos viajando nas histórias. Será que elas têm que ser verossímeis? Não, é o que sempre digo a ele, na esperança de que o princípio de realidade - tão exaltado pelo racionalismo - não o impeça de curtir uma bela história. Já o Antônio, com seus três aninhos, nem se preocupa com isso. Ainda está na fase de curtir a fantasia sem questioná-la. Quanto maior o absurdo, melhor. Agora não, Bernardo, de David McKee, editado pela Martins Fontes, é um belo exemplo do que a fantasia pode produzir. A indisponibilidade do pai e da mãe de Bernardo colocam o menino frente a frente com um monstro. O Antônio achou super normal a presença de um monstro na história e pediu para ser ora o Bernardo, ora o monstro para poder experimentar a sensação de ser devorado e devorador. Já o Pedro ouviu a história ora como menino, ora como ouvinte incrédulo. O sorrisinho dele ao ouvir os comentários do Antônio, era seu esforço para bandear-se para o lado do adulto, que generosamente deixa a criança viver a fantasia. Já quando ele é o único ouvinte, à vontade pela falta de testemunhas, a fantasia lhe cai melhor. Meu esforço tem sido para que, nestes anos que o separam da vida adulta, ele aprenda que é possível crescer sem perder a ternura.

6 comentários:

Carol Arêas disse...

Lindo, lindo o que vc escreveu.

Unknown disse...

Oi Lu
Sei bem o que quer dizer com as diferenças de idade, tenho 3 filhos nas idades de 9, 14 e 17. Há algum tempo atrás, passeipor estas experiências, que são maravilhosas. Melhor ainda são os comentários deles e as explicações dos mais velhos para os menores.
Mas voce tem toda a razão. Devemos crescer serm deixar morrer a criança que existe em nós e que deve continuar a existir por toda a vida.
Talvez teríamos um mundo melhor, se os adultos vivessem mais, as crianças que moram em nossos corações.
Beijos grande com saudades de voces.
Jesuina

Chris Ferreira disse...

Oi Luciana,
adorei a dica do livro.
Eu passo pela mesma coisa. Tenho uma diferença de 6 anos entre as minhas filhas.
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

histórias da pimentinha disse...

Nossa, esse livro é incrivel! Um dos melhores que eu ja li! <3

Luciana Conti disse...

Oi, Jesuína, que bom te ter por aqui. bjs

Anônimo disse...

Acho que esse belo livro também fala aos pais cujos filhos precisam virar monstros para que a família olhe para eles. O pobre Bernardo nem assim consegue!
Que delícia seu blog! Adorei!
Ana Luiza Braga