terça-feira, 5 de novembro de 2013

Os encantos e as encrencas de uma princesa unissex

A vida anda corrida e cheia de novidades tanto em casa, como na rua - com empregada e trabalho novos, o que me têm exigido muito jogo de cintura para dar conta de tudo. O dia começa cedo, por volta de 6h30, com o despertador me tirando da cama, e se faz cumprir com soluções nem sempre desejadas, como ficar sem almoço, faltar a hidroginástica ou deixar para lá coisas de que gosto, como ler e escrever. Ao fim, por volta das 22h, ele termina na cabeceira da cama dos meninos, onde leio diariamente histórias por eles ou por mim escolhidas. Confesso que nem sempre faço isso porque quero. Já pensei muitas vezes em deixá-los dormir sozinhos, mas, como filho não desiste da gente, sento-me à cabeceira da cama e começo a contar histórias. As vezes, faço isso sem prazer, mas quase sempre a magia das narrativas me leva para um mundo em que eles, só eles, podem me guiar. Um mundo de delicadeza, de humor, de imaginação, de amor e de crença na vida e em suas possibilidades. São livros como Encantos e encrencas com a Branca de Neve, de Glaucia Lewiki, editado pela Gryphus e ilustrado por Sandra Ronca, que me fazem ter a certeza de que, mesmo cansada, doida para dar fim ao dia, vale a pena contar, contar e contar histórias para meus filhos. Nesta, três fadinhas são desafiadas por seu professor de magia a dizer o que aconteceria com a Branca de Neve se uma das personagens do conto clássico fosse uma fada.  Clara, Alegra e Bela são cheias de ideias, como qualquer criança, e dotadas de poderes maravilhosos, que as levam para o bosque dos Sete Anões onde vão interferir na história da princesa de pele branca como a neve. A narrativa de Glaucia garante mais do que originalidade em seu reconto de um conto clássico, garante a possibilidade de a criança sentir-se protagonista de uma história em que nada está previamente arrumado. Uma história em que surpresas aguardam os leitores, acostumados com a previsibilidade dos contos clássicos. Por outro lado, as soluções dadas pelas fadinhas continuam no universo do maravilhoso e, assim, diferenciam-se de muitos recontos contemporâneos que pretendem desconstruir o original. A Branca de Neve de Glaucia Lewiki continua sendo uma princesa em busca de um bom príncipe, mesmo que este príncipe seja um sapo. O humor e a imaginação da narrativa garantiram que o Antônio se mantivesse atento à história, esperando para saber que fim as fadas iriam dar à princesa. Uma princesa, é bom dizer, unissex. Glaucia se mantém fiel ao universo maravilho dos contos clássicos e, assim, foge da tentação do mercado de transformar sua Branca de Neve em protagonista dos sonhos românticos das meninas. Afinal, a imaginação não tem sexo e tão pouco idade.

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