domingo, 29 de abril de 2012

A gente se encontra na Flist

O fim de semana promete em Santa Teresa, com a realização da quarta edição da FList (Festa Literária de Santa Teresa). O bairro, que vê o Rio de cima, vai receber, dias 5 e 6 de maio, escritores, ilustradores, contadores de histórias, músicos e atores para louvar a magia da literatura. Literatura para crianças e jovens. Literatura para todos, como faz o homenageado da vez, Joel Rufino dos Santos. Ele, que crê no poder transformador da palavra, vai estar na festa para receber homenagens de seus pares e afagos de seus leitores. Não será só Joel que vai receber loas. 2012 é um ano de muitas lembranças. Darcy Ribeiro faria 90 anos, Nelson Rodrigues e Luiz Gonzaga, 100. Datas a serem comemoradas pela Flist, que programou debates e homenagens a estes grandes de nossa cultura. No mais, é a alegria de sempre, que terá fecho de ouro com o show do Cordão do Boitatá. Dá uma olhada na programação. A gente se encontra no Parque das Ruínas. 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O leão que, como o Antônio, não sabia escrever

Há tempos eu paquerava A história do leão que não sabia escrever, de Martin Baltscheit, editado pela Martins Fontes, mas acabava fazendo outra escolha. Sabe como é, via outro livro que tinha mais a ver com o momento de meus filhos, ou mesmo o meu, e deixava ele de lado. Até que, outro dia fui à livraria trocar uns livros que o Antônio havia ganho repetido, e, quase uma hora depois de estar revirando tudo em busca de um que me encantasse, me deparei com o leão. Me deu aquele estalo de que o momento era aquele. Assim como o leão, o Antônio não sabe escrever e está encantado com uma menina da turma. Ela não é uma leoa, como a namorada do protagonista da história, mas nasceu sob o signo deste felino imponente e está fazendo o meu filhote ficar todo prosa. Mais prosa, ainda, ele está com as possibilidades que a intimidade com as letras e os números pode lhe dar. Os dedinhos, como já falei aqui, não param de trabalhar para construir a leitura ou o raciocínio matemático. Uma graça!  E A história do leão que não sabia escrever  só veio colaborar com este momento do Antônio. Ele amou o livro, com divertidas ilustrações do autor, acompanhou as tentativas do leão - bicho por bicho - de encontrar um escriba que falasse de seus sentimentos pela leoa, até que, cansado de tanto insucesso, bradou para toda a floresta o que se passava em seu coração. Como dizem as crianças, ele fez do seu jeito e deu certo. Conquistou a namorada e começou a aprender a escrever. O Antônio aprovou e vibrou quando ele escreveu o a. A de Antônio!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Tecendo histórias, noite após noite

Em nova fase, dormindo cedo para acordar mais cedo ainda, o Pedro sempre chega à hora de deitar-se caindo de sono, o que o faz muitas vezes rejeitar as histórias que ofereço. Cada vez que diz não à minha intenção de ler para ele, lembro do enorme tempo que dedica à TV e à internet e penso que minha luta para trazê-lo para um mundo de leitores ainda não acabou. Chegamos, nós dois, a conversar sobre isso, sobre as possibilidades da leitura para vencer o tédio que toma conta das crianças às vésperas da adolescência e de como alguns personagens mexem com nosso imaginário e, assim, desvendam um mundo interior até, então, envolto em névoas. Ele ouviu atento, disse que gosta de histórias, mas que só gosta de ler, com suas próprias pernas, alguns poucos livros. Pensei que talvez esteja na hora de levá-lo a uma livraria para que escolha suas leituras. Mas enquanto este momento não vem, decidi prender a atenção de meu menino com As mil e uma noites, a coletânea de contos árabes iniciada pela fantástica história de Sherazade para livrar seu povo da fúria do Rei Shariar, que depois de traído resolve dormir cada dia com uma virgem e entregá-la, ao amanhecer, à morte. Sherazada buscou no fascínio dos contos um estratagema para manter-se viva e, noite após noite, poupar uma moça de seu povo. O rei, encantado com as histórias, a mantém viva por mil e uma noites, até que desiste de sua vingança para viver a seu lado. As histórias são realmente fascinantes pelo mundo exótico que apresentam e pela violência vivida com naturalidade, sem os floreios dos contos tradicionais europeus que ganharam, nos últimos séculos do segundo milênio, cores mais suaves do as originais. Li sem medo as histórias apresentadas por Sherazade ao despótico Rei Shariar para o Pedro, que espantou-se mais com as diferenças culturais da vida dos personagens do que com a violência por eles vivida. Interrompeu a leitura de Ali Babá e os 40 ladrões para entender como um homem casado promete casar-se com sua cunhada, que acaba de enviuvar de seu irmão. A violência, naturalizada por um contexto fantástico, não o chocou, como não choca a nós adultos. Ao fim de duas noites, Pedro, assim como Shariar, estava totalmente ganho para o universo fantástico prometido por uma boa história. Só não sei por quantas noites.
Em tempo: a edição que estou lendo para o Pedro é a da Cosac Naify, destinada a jovens leitores. As mais belas histórias das mil e uma noites, reunidas pela holandesa Arnica Esterl, ganham belíssimas ilustrações da russa Olga Dugina. As ilustrações de príncipes, princesas, ladrões e animais contribuem ainda mais para que o leitor embarque no universo oriental dos contos e faz do livro uma preciosidade para adultos e crianças. Mas como a edição só traz cinco contos, decidi comprar a tradução de Ferreira Gullar para As mil e uma noites, da Editora Revan. O livro, que ainda está sendo aguardado aqui em casa, não tem o mesmo apelo gráfico da edição da Cosac Naify, mas, em compensação, tem o texto de Gullar sobre a primeira coletânea publicada no Ocidente, em 1704, pelo francês Antoine Galland. São 18 histórias selecionadas e traduzidas por Gullar, que vão garantir mais algumas noites de boas histórias aqui em casa.