sábado, 28 de julho de 2012

João e Maria em terceira dimensão

O que mais me encantou em João e Maria, na versão da inglesa Louise Rowe, pela Ciranda Cultural, foi a possibilidade de ver o conto enriquecido pelos recursos da engenharia de papel, sem a simplificação da narrativa que é comum nos livros pop-ups. Louise Rowe esbanjou seu talento nas dobraduras de papel para ambientar a história dos dois irmãos, abandonadas na floresta pelo pai e pela madrasta, mas não esqueceu-se de que sua inspiração veio da narrativa do conto Hansel and Gretel, dos irmãos Grimm. A história está toda lá, em caderninhos presos às páginas em que Louise montou os cenários para o desenrolar da história. As dobraduras de papel que representam a casa dos meninos, a floresta, a casa de doces, o cativeiro dos dois irmãos, a morte da bruxa e a libertação de João e Maria são lindas e sóbrias, como é o clima da  história de abandono e superação. Nada de ilustrações em cores alegres, como nos acostumados a ver na casa de doces da bruxa, que constroem em nosso imaginário um casal de irmãos lindos e louros. Não, Louise sabe bem que eles fogem por toda a história da pobreza extrema, que ameaça suas vidas e a família deles, e que vivem em um mundo de poucos cores. Os marrons e os verdes, em tons fechados, dão o tom das dobraduras que recriam no papel a atmosfera sombria da história dos dois meninos. Estas qualidades fazem com que os pop-ups não sejam um recurso qualquer no livro de Louise e se fundam com a narrativa. As imagens de papel, em três dimensões, neste caso, não são como muitos acreditam um elemento que aproxime João e Maria, de Louise Rowe, dos livros-brinquedo. Pelo contrário, ele é um livro para ser lido, em suas palavras e imagens, e não para ser usado para brincar. A criança que experimentar sua narrativa visual aproveitará ainda mais o conto tradicional, registrado pelos irmãos Grimm. Assim foi com o Antônio, que ama João e Maria. Ele ouviu ao mesmo tempo que olhou, abriu e fechou o livro para ver a montagem das dobraduras e descobriu nas imagens os elementos que tanto o encantam na narrativa, como, por exemplo, ver a bruxa ser jogada para dentro do forno. As dobraduras chamaram sua atenção e é claro, ele quis tocá-las. Expliquei que aquele não era um livro para ser tocado, mas visto. Tocá-lo colocaria sua beleza em risco e João e Maria merece todos os cuidados. Antônio entendeu e curtiu o livro. Agora, que nos venham Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida, os outros títulos de Louise, disponíveis no Brasil. 

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