segunda-feira, 26 de março de 2012

De letra em letra e de dedinhos em dedinhos

O mais novo objetivo de vida do Antônio é aprender a ler e a contar. Ele passa o dia todo contando os dedinhos das mãos, seja para quantificar o mundo, seja para registrar letras, ou melhor, sílabas. Distinguir letras de sílabas é o primeiro desafio que a língua lhe impõe e, ainda longe de vencê-lo, Antônio vai dividindo as palavras por seus sons e, de seu jeito, por suas sílabas. Em sua contagem, amigo, por exemplo, tem apenas três letras. E ai de quem tente o convencer do contrário. Convencer o Antônio de que ele está errado é um desafio maior do que aprender a ler e, por isso, o melhor que eu e o Cadoca temos a fazer neste momento é oferecer a eles brincadeiras com a língua para que, devagarzinho, vá distinguindo letras de sílabas, até que um dia, sei lá quando, ele possa ler sozinho. Por isso, fui remexer a estante a procura de livros que pudessem me ajudar a saciar a ânsia de letras e de números de meu caçula e descobri que perdi Palavras, muitas palavras, de Ruth Rocha, editada pela Melhoramentos, que serviu à curiosidade do Pedro na fase anterior à alfabetização. (Vale registrar que o Pedro nunca teve a ansiedade do Antônio em nada.) Voltando às letras, resolvi então procurar um novo livro e foi então que encontrei De letra em letra, de Bartolomeu Campos de Queirós, editado pela Moderna. Comprei, certa de que a delicadeza da prosa de Bartolomeu daria a meu pequeno um biscoito fino das letras ou sílabas, como ele queira. Não errei, o livro é lindo no texto de Bartô e nas tintas suaves de Elisabeth Teixeira. A maior brincadeira que ele tem nos permitido é mudar um pouquinho os versos de Bartô. Só um pouquinho para poder lê-los com os nomes dos colegas de sala do Antônio e, assim, permitir que ele relacione mais facilmente as palavras com suas letras. Assim, Alice cedeu lugar a Antônio, Daniel a Danilo, Mario a Miguel, Valério a Vinícius... De todos os versos, o que mais gosto é o da letra B. "Com B/ Beatriz borda bosque, balão, borboleta./ Beatriz brinca em bonitos bosques/ com brilhos de balões/ e belas borboletas brancas." De letra em letra, o Antônio vai tecendo o seu bordado. Enquanto não o termina, continua a contar seus dedinhos.

2 comentários:

Rachel Facó disse...

Oi Luciana!
Que alegria ler sua resenha! Pelos mesmos motivos, cheguei a esse livro do Bartolomeu, que foi o primeiro dos muitos que temos hoje do autor. Na época não conhecia o autor e me encantei com poesia singela e a brincadeira com as palavras. Tempos mais tarde, o primeiro livro que a minha mocinha leu sozinha foi "História em 3 atos", uma deliciosa aventura de letras e som! Hoje, há de tudo na estante do Bartô, um escritor que atravessa idades! Do livro "De letra em letra" gostamos mais dos versos da letra H - que me fizeram tirá-lo de uma livraria e trazê-lo pra casa: "Com H / Helena herda hortência, hortelã, hera. / A horta de Helena é hotel. / Hoje hospeda hortênsia, hortelã, hera."
Beijos e obrigada pela doce lembrança,
Rachel




Do "De letra em letra" sem

Helô Tavares disse...

Bartô tem uma prosa cheia de poesia e assim Antonio meu fofo neto vai aprendendo a diversidade de bês e outras letras de forma lúdica.Bj Mãe.