quarta-feira, 30 de março de 2011

O encanto das histórias de Eva Furnai

Érico Veríssimo foi o primeiro autor que me cativou. Digo autor porque me encantei não com um único livro, mas com o universo de sua literatura. Eu era adolescente e estava descobrindo os prazeres da leitura. Amei tanto Clarissa e seu primo Vasco - comunista e libertário, como eu achava que deviam ser todos os homens e mulheres -, que fui buscar outros de seus personagens. Em pouco tempo tinha lido toda a sua obra e achei na saga dos Terra Cambará, de O tempo e o vento, um livro para ficar para sempre entre os meus preferidos. Este movimento se repetiu com outros autores das minhas leituras e dos filhos. Para isso, basta que eu encontre em seu universo alguma coisa que me fascine. O humor, um dos traços da inteligência humana que mais encanta as crianças, foi o responsável por eu estabelecer um laço especial com a literatura de Eva Furnai e reservar para ela um lugar privilegiado na estante dos meus filhos. Este laço se reforça a cada livro de Eva que leio para o Pedro ou o Antônio. Cada um curte o seu. O Antônio acende sua imaginação todas as vezes que abre Zuza e Arquimedes, livro de imagem editado pela Paulinas, e se diverte dando nomes e texto para os personagens. Já eu e o Pedro começamos a ler Eva Furnari pela trilogia Você Troca, Assim Assado e Não Confunda, editada pela Moderna, em que a autora brinca com a língua. Ele ainda era uma criança pré-escolar, o que não o impedia de perceber as estrepulias das rimas de Eva. O tempo passou, o Pedro cresceu e hoje ele quer histórias maiores e bem-humoradas, o que temos encontrado com prazer em vários livros dessa escritora/ilustradora ítalo-brasileira. Felpo Filva, já comentado aqui no Gato de Sofá, foi o primeiro desta nova safra e deixou o Pedro encantado. Depois veio Abaixo das canelas, editado pela Moderna, que o fez sentenciar assim que soube que era a mesma autora de Felpo Filva": "Essa escritora é muito boa, mesmo." O humor fez o Pedro, um apaixonado por matemática, ouvir desafiado Os problemas da Família Gorgonzola, também pela Moderna. Agora está em nossa fila o premiado A Bruxa Zelda e os 80 docinhos, pela Ática. Já o Antônio está sendo iniciado na trilogia do Você Troca, Não Confunda e Assim Assado. Ele, que não é bobo nem nada, já percebeu a alegria de brincar com as imagens e as palavras propostas por Eva. Enquanto isso, vou me deliciando com o humor dessa autora, que tem o incomum dom de escrever como se fosse criança e, para nossa alegria, tem uma vasta obra a ser explorada. Quem quiser conhecer um pouco mais deste universo literário e sua autora, vale ler Eva Furnari e seus encantamentos, da professora de Literatura Márcia Lígia Guidin, editado pela Moderna em uma justa homenagem à autora em seus 30 anos de carreira literária.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Biblioteca de Santa Teresa continua em risco

Oi, amigos,
Tenho notícias novas da Biblioteca de Santa Teresa. Participei no sábado (19) de uma reunião com a senhora Lêda Fonseca, da Secretaria de Cultura, onde esclarecemos todas as dúvidas sobre o Decreto Municipal 33.444, de 28/02/2011 , assinado pelo prefeito Eduardo Paes, que transfere muitas das bibliotecas da  Cultura para a Educação. O texto do decreto é claro em relação à extinção da Bibliteoca de Santa Teresa, mas paradoxalmente, garantiu a senhora Lêda, ela vai permanecer aberta, agora como parte do Centro Cultural Laurinda Santos Lobo.  Isso quer dizer que oficialmente nossa biblioteca não existe mais e, por isso, o esforço de quem quer vê-la com as portas abertas para o público é, agora, mudar o decreto para formalizar sua transferência para o Laurinda Santos Lobo. Do jeito que as coisas estão, sob a vigência do decreto, a biblioteca não existe mais e a informalidade de seu vínculo com a Cultura não garante a permanência de seu acervo e de servidores. Mudar o decreto é, desta forma, garantir que haja funcionários e que o acervo irá permanecer aonde está e não será mais, como o texto do decreto deixa claro, transferido para a Biblioteca do Dique, no Jardim América. Além disso, temos que garantir que ela permaneça aberta como biblioteca e não como sala de leitura – o que são duas coisas bem diferentes. A mobilização de todos foi fundamental para garantir a sua reabertura, mas esta conquista precisa ser formalizada. Vale o que está escrito e está escrito que ela foi extinta. Por isso, volto a pedir a todos que apoiem o abaixo-assinado da AMAST contra a extinção da biblioteca de Santa Teresa.
Abraços, Paloma
Infelizmente ainda não podemos ficar tranquilos em relação à Biblioteca de Santa Teresa. Por isso, reforço o pedido da Paloma. Apoiem o abaixo-assinado da Amast, que tem mais de 700 assinaturas, entre elas, a da nossa escritora Lygia Bojunga, moradora e amante do bairro.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Viva a Biblioteca de Santa Teresa!

Queridos amigos,
   Ontem, por e-mail, a  Sra. Leda Fonseca, da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, disse que a  informação do fechamento da Biblioteca Popular de Santa Teresa era um mal entendido, que mandaria hoje uma pessoa da Secretaria de Cultura para a biblioteca a fim de esclarecer a situação.
    Acabei de chegar da biblioteca. A Sra. Josefa Antônia Padrão Coutinho, gerente das Bibliotecas Populares da Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro, esclareceu que o 2º artigo do Decreto Municipal 33444, do dia 28 de fevereiro de 2011, que diz “A Biblioteca Popular Municipal de Santa Teresa passa a denominar-se, Biblioteca Escolar Municipal do Dique – José Lins do Rego”, é para ser interpretado como a transferência de cargo da Diretora da Biblioteca Popular de Santa Teresa para a Biblioteca Escolar Municipal do Dique, que fica no Jardim América.
    Esclareceu ainda que a Biblioteca de Santa Teresa continua integrando o quadro da Secretaria de Cultura. Ela vai entrar em reformas, e durante as obras o acervo vai ser transferido para o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, que fica ao lado, e os serviços não irão ser interrompidos, inclusive as aulas de inglês. Houve uma falha na comunicação dada aos funcionários, mal entendidos, mas que em nenhum momento foi dada a ordem para eles recolherem o acervo.
   Essas são as notícias oficias que recebi pessoalmente de uma represente legal da Secretaria de Cultura e transmito a vocês.
  A comunicação humana não é feita só de palavras explícitas, é também feita através dos olhares, palavras não ditas ou soltas no ar, gestos e entonações. Não sei o que fez o Sr. Eduardo Paes assinar um decreto tão mal redigido, e  gerar tantos “maus entendidos”, mas meu sentimento me diz que nossa biblioteca esteve na beira do abismo, e temos que vigiar para que ela se afaste bem dele.
  Agradeço a Sra Leda Fonseca e a Sra. Josefa Antônia Padrão Coutinho pela gentileza e presteza com que trataram o caso, a Leonor Werneck por ter feito o contato e a todos os moradores e amigos de Santa Teresa e dos livros por terem se manifestado diante da ameaça de extinção da Biblioteca de Santa Teresa.
    Abraços,
    Paloma
PS: Dúvidas respondidas, que assim seja. Vida longa para a Biblioteca de Santa Teresa!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Em defesa da Biblioteca Municipal de Santa Teresa

     Queridos vizinhos,
Não sei se vocês já têm ciência do Decreto Municipal 33.444, de 28 de fevereiro de 2011, que extingue nossa querida biblioteca de Santa Teresa e transfere todo o acervo para uma biblioteca já existente no Jardim América. Trata-se presumivelmente de um ato de contenção de custos, que traz em seu bojo um indício do total descaso pelo nosso bairro e seus moradores.
Há anos sou leitora assídua da Biblioteca de Santa Teresa, ela faz parte da minha história, como faz parte também da história de muitos de vocês.
Tenho dois filhos, com cinco anos de diferença entre eles. Outro dia fui com a minha filha pegar um livro e passeando entre as prateleiras, dei de cara com Fábulas Italianas, de Ítalo Calvino.
- Vamos pegar esse livro - disse a ela, lhe mostrando a capa.
- Esse não tem figuras – ela me respondeu, fazendo uma carinha de desagrado.
- Mas é maravilhoso! Você vai ver!
Quando fui preencher a ficha de empréstimo, vi nela minha assinatura, de cinco anos atrás, e disse.
- Olha filha, eu peguei esse livro para o seu irmão, quando ele tinha a sua idade, e ele adorou.
De noite, contei uma fábula italiana para minha filha e contei outras nas noites seguintes. Quando acabou, voltamos na biblioteca, devolvemos o livro e fomos escolher outro, e ela me disse:
- Ah, mãe, vamos pegar outras fábulas italianas.
- Mas você não quer um livro com gravuras dessa vez?
- Não. Sem gravuras eu posso usar a imaginação.
Essa foi uma das minhas histórias vividas na biblioteca, foi com um livro de lá que minha filha aprendeu a abrir sua mente para a imaginação, como meu filho já havia aprendido um dia,com o mesmo livro, que fica lá na prateleira da biblioteca, disponível, contendo todo um mundo dentro de suas páginas, esperando que mais alguém compartilhe da maravilhosa experiência de ser leitor.
        Amigos, a nossa biblioteca foi a única a ser extinta e seu acervo vai integrar uma biblioteca já existente. Neste momento o acervo está sendo catalogado, mas ainda não foi transferido. Temos apenas alguns dias para tentar de algum modo reverter essa situação, impedir que nos tirem nosso espaço de imaginação – também somos carentes de cultura.
         Acabei de ver no site que a AMAST (Associação de Moradores de Amigos de Santa Teresa) assumiu as rédeas do protesto contra o fechamento da Biblioteca Popular de Santa Teresa., com a divulgação de um abaixo-assinado. Por favor, assinem aqui o abaixo-assinado em defesa de nossa biblioteca.
Beijos,
Paloma Rocha Lima Medina

Acabo de receber este apelo em defesa da Biblioteca Popular de Municipal de Santa Teresa José de Alencar. O decreto não fala de fechamento de portas, mas de transferência de sua gestão para a Secretaria de Educação e da mudança de seu nome para Biblioteca Escolar Minicipal do Dique José Lins do Rego. Só esta mundança já é de se estranhar. Literatura é cultura e as bibliotecas de portas abertas para comunidades devem ter um papel importantíssimo na promoção da leitura. O decreto deixa no ar outras dúvidas que devem ser respondidas. A principal delas é aonde a Biblioteca Escolar do Dique José Lins do Rego vai funcionar, já que existe uma Biblioteca Municipal Popular do Dique José Lins do Rego, no Jardim América. No Dique ou em Santa Teresa? Os moradores de Santa Teresa têm tido informações pelos próprios funcionários da biblioteca que suas portas serão cerradas e seu acervo transferido para o Jardim América. Diante de tantas lacunas, vale a pena ficar atento para evitar a morte da biblioteca fundada em 1971, no bairro onde moraram Manoel Bandeira, Paschoal Carlos Magno e Laurinda Santos Lobo.
PS: A ilustração é de nossa querida e talentosa Mariana Massarani, que, com seu humor, retratou com maestria a riqueza que há dentro de uma biblioteca. 

sábado, 12 de março de 2011

Uma bruxinha para chamar de sua

Faz tempo que não escrevo no blog, eu sei. Mas é que aqui em casa fevereiro é um tempo animado. Além da rotina de sempre - trabalho e filhos -, ainda temos o carnaval. Eu e o Cadoca adoramos a folia, que no Rio começa duas semanas antes do carnaval oficial. Por isso, não tenho escrito no blog. Mas nossas leituras noturnas continuaram. O Pedro hoje é um leitor mais exigente. Gosta de novelas e romances, onde pode acompanhar por mais tempo as aventuras e desventuras de seus personagens prediletos. Estamos lendo o quarto livro da série do Pequeno Nicolau, de Sempé e Goscinny. O da vez é A volta às aulas do pequeno Nicolau, editado pela Rocco Jovens Leitores. Ele não se cansa de saber da gulodice do Alceu e das trapalhadas da turminha do Nicolau. Ri que faz gosto. Já o Antônio, meu menino que está prestes a completar quatro anos, adora variar. Cada dia quer um livro diferente. Mas ele tem suas predileções que variam de tempos em tempos. As atuais são O bem com o bem se paga, recontado por Edgard Romanelli e editado pela Moderna, e já comentado aqui, e A Casa assombrada, de Kazuno Kohara, editado pela Cosac Naify. A história da menina que não era apenas uma menina, era também uma bruxa, é realmente encantadora. Tão encantadora que dá frescor às velhas histórias de casas assombradas por fantasmas. Isso explica a razão de o Antônio ter me feito lê-la todos os dias da semana que passou. Como sempre ele resolveu renomear os personagens com nomes de seus amigos queridos. A bruxinha virou Marina e o gatinho, Lucas. Mas no meio da semana o Lucas perdeu o posto para o próprio Antônio, que passou a ser o companheiro das caçadas de fantasmas da Marina. A história é daquelas que permitem às crianças suas próprias fantasias. O texto e a imagem têm a sintonia necessária aos bons livros de imagens, fazendo com que a história seja lida e vista ao mesmo tempo. A japonesa Kazuno Kohara, radicada em Londres, é autora do texto e das ilustrações. Ele teve uma bela sacada para dar leveza à bruxinha e seu companheiro gatinho e aos fantasmas. Suas ilustrações foram todas criadas nas três cores do Halloween - laranja, preto e branco - e impressas em papel Alta Alvura, 150g/m, o que dá elegância ao livro. A leveza e o humor da história são um convite para as crianças, assim como a bruxinha, fazer os fantasmas de gatos e sapatos e rir um bocado do medo que mora em cada um. Pelo menos é isso eu e o Antônio temos feito antes de dormir, com a ajuda da bruxinha de Kazuno Kohara.