sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma pequena dose de terror

Outro dia fui à biblioteca da escola dos meus filhos, que generosamente aceita a inscrição de pais de alunos, para pegar uns livros para um trabalho sobre literatura de terror, que eu estava fazendo para a pós, na UFF. A Estela, uma das professoras responsáveis pela biblioteca,  me recebeu com o carinho de sempre e, além de me entregar os títulos que pedi,  me sugeiu alguns que não conhecia. A casa assombrada, de Angela Lago, foi uma bela surpresa entre eles. Editado, em 1997, em formato incomum de 10cm X 10cm, pela RHJ, o livro é um mimo e já está em sua sexta reimpressão. Angela, com seu criativo traço, reconta uma história do folclore judaico sobre um fantasma que atormenta a casa de uma família. As ilustrações, como ela explica no livro, foram feitas em computador e gravadas em filme. Isso dá a elas a impressão de uma foto P&B, o que colabora para o clima de terror. Outro aspecto interessante é o diálogo entre ilustrações e texto, fazendo com que o pequeno leitor decifre não apenas palavras, mas também imagens na construção da história. Fiquei tão encantada, que resolvi comprar um exemplar. Agora, eu e Antônio nos divertimos com a história da velhinha que tentou fugir do fantasma. Angela oferece ao leitor uma pequena dose de terror capaz de divertir crianças e adultos. A moral da história é que sempre vale a pena visitar uma boa biblioteca.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Com a morte entalada na garganta

Há tempos paquero o livro O pato, a morte e a tulipa, do alemão Wolf Erlbruch, editado pela Cosac Naify. Todas as vezes que me deparava com ele nas livrarias o pegava e lia com prazer e encantamento, causado pela beleza gráfica da história do pato que trava um profundo diálogo com a morte. Mas, apesar de achá-lo lindo, acabava sempre o deixando de lado. A razão era o desconforto que este tema causa a mim e ao Pedro. A morte sempre foi um assunto difícil na minha vida e percebo que também o é para meu filho mais velho. Todas as vezes que ela surge entre nós, vejo sofrimento nos olhinhos dele. Outro dia, ele veio me mostrar que gravara uma mensagem no celular. Eu a ouvi com um trago na garganta. Pedro dizia que amava a mim, ao pai e ao irmão e que temia muito que algum de nós morresse. Foi a maneira meio torta que ele encontrou de me falar de um medo tão comum nas crianças. Ele precisou de um gravador entre nós para poder me contar de sua angústia. Como me lembrei de mim quando criança? A noite, quase todas, me ameaçava com a ideia da morte dos meus pais, minha própria e dos meus irmãos. A solidão de meu quarto aumentava ainda mais a minha apreensão com a possibilidade de não mais encontrar o dia. Mas eu sempre acordava e, de dia, esse assunto não me importava. Acho que é assim com o Pedro. A ideia da morte o assombra e depois vai embora o deixando novamente vez em paz. Por isso, me pergunto se vale a pena provocar esta emoção, mesmo com uma leitura tão rica de subjetividades e de saídas para uma boa conversa, como a do pato de Erlbrush. O meu racional diz que sim, mas meu coração de mãe se rende a velha ideia de que é melhor deixar as coisas como estão. Mas por vias das dúvidas, no domingo, ao ver o livro na prateleira de uma livraria resolvi trazê-lo para casa. Quem sabe?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um livro para ler em família

O Pedro e o Antônio viajaram hoje. Estamos eu e o Cadoca donos de toda a casa. De cada canto. De cada silêncio. Adorando e ao mesmo tempo estranhando a falta de nossos meninos. Hoje, não terei para quem ler antes de dormir. Isso me dá tempo de escrever no blog, onde não venho há tempos, e ainda ler, desta vez, para mim. Mas antes vou lembrar de uma leitura recente com o Pedro. O livro não foi uma escolha minha ou dele - já tão cheio de opinião -, mas da escola. Os bichos que eu tive (memórias zoológicas) vale a leitura, como os milhares de leitores de Sylvia Orthof já sabem. Ele está na 43’ reimpressão pela Editora Salmandra e ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte para Melhor Livro Infantil, em 1983, e o certificado de honra do Internacional Board on Books For Young People, em 1986. As ilustrações são do filho da autora, o artista plástico Gê Orthof, e compõem com leveza e lirismo o clima lúdico dos oito contos do livro. As histórias de Sylvia são tão deliciosas que Pedro as leu em sala de aula e fora dela. Foi ele quem veio me mostrar o livro e falar que tinha adorado o conto Sua avó, meu bassé. "Imagina a minha avó ser um cachorro?", se divertiu ele. O conto é maravilhoso e tão engraçado que resolvemos ler para a avó do Pedro. Minha mãe é um pouco mais nova que Sylvia e morou até casar na Lagoa Rodrigo de Freitas, o cenário da história. Ela, que pescou muito barrigudinho, não ficou nem um pouco ofendida com o fato do bassé da autora ter o nome de Minha Avó. O Pedro adorou e a gente também. Que nos venham mais livros da Sylvia Orthof para lermos em família.